Você já parou para pensar na última vez que se permitiu ficar entediada?
Nesse mundo veloz, cheio de informações e novidades, ficar sem fazer nada parece impossível, né? Foi-se o tempo onde as pessoas costumam conversar umas com as outras na fila da lotérica, ou que o céu fosse admirado por vários olhos enquanto a hora não passava.
Parece que hoje, frente a qualquer sinal de tédio, já apertamos um quadradinho na tela do nosso celular e somos inundados com vários vídeos de curta duração (porque nada maior do que 30 segundos prende atenção de ninguém) e tentamos preencher essa sensação de nada. E nesse movimento, onde nosso cérebro recebe diferentes estímulos em questão de segundos, somos atravessados de diferentes formas, boas e ruins.
A verdade é que hoje não temos tempo para o tédio! Há sempre uma nova série para assistir, um novo livro para ler, um novo curso para comprar, uma nova influencer para acompanhar, uma nova notícia fresquinha para ler, um novo desastre que aconteceu num lugar que você nem conhece, uma nova rotina para comparar com a sua, uma nova meta para bater... não há tempo para desconectar.
Como é que fazíamos antigamente? Como sobrevivemos a horas na sala de espera de um médico sem um tiktok para assistir? Como sobrevivemos a horas na fila do banco sem inúmeros reels seguidos para nos distrair? Como a gente encarava o tédio antigamente? Como é que era quando entrávamos em contato com os nossos pensamentos, nossas realidades, nossos sentimentos? Será que era tão ruim assim?
E não me levem a mal, eu adoro a internet e consumo conteúdos em diferentes plataformas todos os dias, mas venho pensando muito em como o acúmulo de informações pode me fazer mal. Há tempos venho refletindo sobre a minha falta de capacidade de olhar ao redor, de me conectar com a realidade ou de simplesmente esperar. A possibilidade de ter qualquer informação a qualquer momento na palma da nossa mão pode nos deixar frustrados rapidinho e até super preocupados em estar a par de tudo o que esta acontecendo no mundo todo, já que hoje é tão fácil saber o que aconteceu em uma cidadezinha no meio da Europa...
Durante essa semana, ao assistir algumas aulas de alguns cursos que tenho feito, escutei (e associei) as seguintes informações: hoje as redes sociais perderam o intuito de comunicação e de criar laço, passando a ser uma grande vitrine para a nossa parte narcísica, onde só mostramos o bonito e, se não tiver likes o suficiente, apagamos e fingimos que aquilo nunca existiu. Além disso, temos que estar conectados o tempo inteiro para acompanhar todas as trends e últimos cancelamentos.
Falo aqui de duas coisas: redes sociais e seu excesso (e até como reverbera em cada um) e a dificuldade atual de se sentir entediado, onde uma coisa leva a outra em um ciclo que nem dá para achar o começo.
Mas o que eu realmente quero trazer para cá é o seguinte: o que você tem feito com o seu tédio? Tem sentido ou preenchido? Por que não nos permitimos mais sentar e olhar para o teto? Para onde foi a nossa capacidade de contemplação?
Estamos sempre querendo fugir do tédio ou da possibilidade de entrar em contato com os nossos pensamentos e acabamos nos enfiando num buraco ainda maior e mais perigoso: o uso automático e vicioso das redes sociais - e que, provavelmente, você nem vai se lembrar do que viu daqui 5 minutos. Um ciclo vicioso que atinge a autoestima, o tempo, a noção de realidade e até a nossa performance.
As redes sociais são ferramentas maravilhosas de conexões, compartilhamento, divulgação de trabalho, mas podem se tornar algo extremamente tóxico quando nos tira do real e nos joga para a infinitude do que elas podem acender em cada um se não tivermos o cuidado de fazer um uso consciente.
Desafio: sinta o tédio. espere. não entre na rede social assim que abrir os olhos de manhã. tente se conectar com o que está a sua volta.
Porque, no final das contas, o que temos é o nosso presente e o que fazemos com ele. Como você tem vivido com isso?
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