Início
Sobre mim
O blog
Contato
11/27/2025

Amar também é deixar ir



Por vezes, o amor pode ser muito egoísta e ciumento. Não queremos dividir, não queremos deixar ir. Queremos tudo para nós para tirar o máximo de proveito possível, alimentando uma relação que, para quem está do outro lado, pode ser muito difícil de sustentar.

O amor tem, sim, a vontade de ficar perto, de fazer o impossível para melhorar a situação e de mexer os pauzinhos para que tudo fique confortável. O amor também tem muita vontade de estender o tempo para sempre adiar o fim, mas tem tempo estendido que é egoísmo, porque o outro lado já pede por não estar mais aqui. O outro lado precisa voar, precisa seguir o próprio caminho, precisa descansar.

Amar é um mar de complexidade, com ondas de certezas e tsunamis de dúvidas. Mas também é a calmaria de águas leves que levam o barco para a praia, onde ele pode se aterrar e o marinheiro descansar. Amar tem intensidade tão grande que nos cega da realidade imposta, que clama por mudança, por descanso. Amar também é tomar uma decisão extremamente difícil, mas que é justamente o que é preciso para que o amor seja puro e fiel.

A gente ama em realidade e rotina, mas também ama na memória e na saudade, tendo um amor genuíno e bonito guardado, sem o egoísmo de querer fazer ser para sempre algo que é temporário. Tem amores que, nesse plano, têm hora para ir embora, mas, no outro plano, são eternos.

O amor tudo suporta, sim. Até a decisão mais difícil de deixar ir.

Amar também é deixar ir. E essa é a maior prova de amor.

10/23/2025

Que escolhamos deixar as pedras

Fonte: Pinterest

Todos os meus textos aqui postados são frutos de reflexões que eu tenho durante os meus dias ou sobre algo que vem ocupando a minha mente por um bom tempo. Às vezes, a própria escrita é uma maneira de refletir e até de ressignificar. Escolho postar aqui não só para dar vazão às minhas palavras, mas também para cruzar com o caminho de alguém que possa se beneficiar de alguma forma. Por isso, sigo muito o meu feeling, prestando bastante atenção no que realmente precisa ser escrito/refletido, não me amarrando a cronogramas de postagem que tolheriam a minha criatividade e fluidez. Confesso que nem sempre tenho vontade de escrever ou nem sempre tenho algo sobre o que escrever, mas também aprendi que as melhores reflexões partem do desconhecido e do desamarrado. Acho que hoje é um desses textos.

Andei pensando muito sobre os fardos que a gente escolhe carregar na vida. Até acho que essa ideia de “escolher” carregar não é familiar para muitas pessoas. Para quem não sabe, eu sou formada em Psicologia e tenho um forte pé na Psicanálise, por isso sempre reflito sobre o que é consciente e o que não é. Em terapia, depois de muuuuito repetir e quebrar a cabeça, aprendemos que temos responsabilidades frente ao que nos queixamos e temos a opção de querer deixar para trás o que nos aflige. Parece muito radical pensar assim, mas é verdade.

A gente escolhe deixar mudando de perspectiva, dando um novo sentido ao que aconteceu ou até mesmo perdoando. Mas tem muita pessoa que se apega à dor porque é justamente aquilo que dá sentido no dia a dia. É como se, deixando o fardo para trás, a pessoa não tivesse mais nada. Não sobraria nada, porque a vida, até aquele momento, foi sobre ser pesada e dolorosa.

Acredito que muita gente tem medo de desapegar da dor por não saber o que pode enfrentar pela frente. Porque a vida sem discussões, ressentimentos, brigas e angústias parece insuportável. Porque ter que reaprender a conviver, respeitar e amar parece ser muito trabalhoso.

Tem gente que acha conforto no que é desconfortável, por mais que doa muito.

E muitas dessas coisas aparecem de um jeito inconsciente, automático, repetido sem nem perceber. Mas, depois que você passa por um processo de se desarmar, se vulnerabilizar e se avaliar, o peso acaba sendo uma escolha. Aí que entra a sua responsabilidade na desordem de que você se queixa (um pensamento que nasceu de Freud, viu?!).

Eu poderia dar mil exemplos, mas acho que não teria a possibilidade de aprofundar, até porque cada um pode se apresentar de jeitos diferentes para cada pessoa. E a vida é muito mais complexa do que um mero exemplo - mas pode servir para qualquer coisa, é só refletir!

O que eu quero passar com isso é que temos opção. Na maioria das vezes, temos opção!

É muito melhor soltar o peso e encarar o desconhecido de uma vida que pode ser muito mais leve e bonita do que passar o resto da vida subindo uma montanha com uma pedra gigante nas costas, te impedindo de viver bons momentos com novos significados e sentidos.

Que escolhamos deixar as pedras.

10/13/2025

Estamos perdendo a nossa habilidade de se comunicar?

Emojis, figurinhas, reações e curtidas nos stories... O que era para agregar na nossa comunicação e deixar mais visual o que gostaríamos de dizer vem se tornando um substituto para algo que é primordial nos relacionamentos de qualquer ordem: a comunicação.

Há tempos venho refletindo sobre isso e até me policiando no uso desses “facilitadores” (dá para chamar assim?) e cheguei a uma conclusão: as pessoas estão perdendo a capacidade de se comunicar e de se expressar umas com as outras.

O uso excessivo desses artefatos, na minha visão, tem levado as relações a um lugar onde a palavra vai se distanciando e a troca se torna supérflua, rasa. As pessoas já não conseguem se expressar por escrito (ou em áudio) e, no lugar disso, enviam uma figurinha ou até mesmo deixam um coração ou “joia” no que foi enviado. Mensagens importantes são recebidas com a frieza de um emoji e ficam com a falta do calor do que realmente poderia ter sido dito.

Não quero problematizar o uso das figurinhas, emojis e reações - até porque eu uso e sei que eles são uma forma de se comunicar -, mas chamar a atenção para como estamos os usando. Eles têm nos tornado frios e distantes? Ou os usamos como muleta para não termos a implicação de realmente expor o que sentimos? Se antes, nos aniversários, recebíamos uma ligação calorosa, hoje em dia enviar um emoji de serpentina e bolo já basta - ou até mesmo uma figurinha bonitinha que serve como substituto para textões.

Nossas palavras estão sumindo porque não queremos lidar com o peso do que dizemos ou escrevemos. Ou porque “não temos tempo” para fazer uma ligação para o aniversariante ou mandar uma mensagem para a pessoa que começou um emprego novo. Até mesmo para evitar o desconforto de responder a uma mensagem que não foi tão legal de ler e agradecer pelo convite para uma data importante que não poderá ser atendida.

Nossos afetos estão sendo trocados por reações rápidas e “usados recentemente”, e isso tem deixado a nossa comunicação preguiçosa e as nossas trocas pobres e apáticas. Apesar de algumas figurinhas e emojis conseguirem traduzir certas reações e sentimentos, não há nada tão nosso quanto a palavra - seja ela falada ou escrita.

A palavra conecta, junta, escancara, limita. A palavra expressa a singularidade de cada um e expõe o que realmente se quer colocar na relação. Emojis e figurinhas são ambíguos e generalistas. Acredito que, para tentarmos voltar aos afetos calorosos de antes (e antes de quê? Alguém arrisca um palpite?), podemos buscar um equilíbrio entre palavras e figuras - em que emojis, figurinhas e reações entrem como uma parte da equação que soma, não a que substitui e distancia.

Com o texto, fica o convite para refletir: como está a sua comunicação? Você tem se expressado com equilíbrio ou usado muletas demais?


10/03/2025

A beleza de conviver nas falhas

Fonte: Pinterest
Fonte: Pinterest

Esses dias eu fiquei pensando que conviver com alguém é aceitar uma dualidade, uma rachadura. É entender que não se pode ter o perfeito, mas o real, que demonstra falhas. É abrir mão de querer controlar alguém e aceitar que os defeitos existem, até mesmo em nós. E é exatamente isso que nos torna quem somos. E é através disso que a gente escolhe ficar ou não.

É entender que nós não somos preto ou branco, mas, sim, cinzas; uma mistura do que temos de bom e do que não é tão agradável assim. Isso envolve maturidade para reconhecer que a perfeição é fantasia e pensar no próprio lugar no mundo. Lugar este que é individual e que convive com outros seres individuais, apesar do espaço coletivo. É reconhecer que cada ser humano é um e que não, necessariamente, agiria como gostaríamos ou como até nós agiríamos.

Conviver com alguém, seja por meio de relações amorosas, familiares, de amizade ou de trabalho, é considerar dois, três, quatro ou vários jeitos individuais que formam uma outra saída, juntando pedaços de todos que participam da equação. É compartilhar peças de um quebra-cabeça que fica exposto na mesa da sala, esperando ser finalizado.

Conviver com alguém também é abrir mão do nosso narcisismo (aquele que todo mundo tem um pouco) e se enxergar como mais um pontinho no mundo, mas que ainda tem a sua importância. É também ceder, dialogar, se prontificar e ser firme quando necessário. É entender que ter o próprio conto de fadas é possível, mas de um jeito ressignificado e adaptado.

É, por fim, internalizar que a perfeição é uma fantasia agarrada à imaturidade e que ninguém jamais alcançou tal feito. É enxergar beleza no falho, se ver enquanto ser humano em toda a sua complexidade e aceitar, se permitindo viver uma vida leve e rachada, mas bela mesmo assim.